11 Jan Observador – Cobrança de impostos não é uma prioridade do Governo
A administração pública não pode continuar a selecionar lideranças que se eternizam nos lugares décadas e se escolhem umas às outras, em concursos de fachada, num sistema sem capacidade de regeneração
200 novos gestores e inspetores na Autoridade Tributária e Aduaneira são uma gota de água nas necessidades desta organização. Este foi o número autorizado pelo Governo para abertura de concurso externo. Quando o Governo reforça, e bem, o SNS ou a PJ e dá este sinal à AT, mostra, claramente, que a liquidação, cobrança e fiscalização de impostos não é uma das suas prioridades! A bazuca, não vai durar para sempre, e cá estaremos para analisar, no futuro, os resultados desta estratégia.
Isto, porque a centralização de competências, quer na área da inspeção tributária, quer na área da justiça tributária, tem conduzido a ineficiências e burocratização de processos, que apenas prejudicam o combate à fraude e evasão fiscal. Basta falar com dirigentes intermédios da AT e chefias tributárias, que naturalmente não se podem expor publicamente, mas que diariamente notam a cada vez maior dificuldade em agilizar procedimentos dependentes de serviços centrais que não respondem em tempo útil. Mas pior, a inspeção tributária não se faz apenas através de planeamento central e análises informáticas num gabinete em Lisboa. Faz-se também e principalmente, no terreno, em contacto com o mundo real, que tem particularidades diferentes consoante a região do País. E é no terreno que se detetam aqueles que vivem à margem do sistema, ou que, estando parcialmente dentro do sistema, têm mais atividade ilegal do que legal. Cada vez mais se dificulta o trabalho dos inspetores no terreno, e uma liderança deve trabalhar para facilitar o trabalho e não para o dificultar.
Não há génios da lâmpada em lado nenhum. E nunca devemos considerar que sabemos tudo, que devemos controlar tudo e apenas nós é que temos capacidade para gerir uma organização. É preciso criar equipas, formar equipas e depois confiar nas equipas. A administração pública não pode continuar a selecionar lideranças que se eternizam nos mesmos lugares décadas e que se escolhem umas às outras, em concursos de fachada, que mais não são do que a legitimação de alguém que se colocou lá previamente, por nomeação direta, a ganhar currículo, para depois no concurso se colocar no lugar definitivamente, porque é aquele que tem mais experiência no cargo! É a denominada “pescadinha de rabo na boca” e leva a um sistema protecionista nas lideranças, sem capacidade de autocrítica ou de regeneração, que empobrece imenso a administração pública portuguesa.