Testemunhos – Teletrabalho

Os últimos meses foram tempos de mudança e (re)adaptação, sobre os quais importa refletir e pensar o futuro.

Contámos com a colaboração de alguns Delegados Sindicais, pedindo o seu depoimento sobre a vivência em tempos de pandemia, qual a perspetiva sobre o teletrabalho e sobre a conciliação da vida laboral com a vida familiar, assim como a forma como influenciou o desempenho da função de Delegado Sindical e que desafios esperam no futuro com esta nova realidade de possíveis funções à distância.

Conhecer estes testemunhos, que serão certamente partilhados por muitos outros colegas, ajuda-nos a fortalecer para enfrentar os nossos desafios.

Saudações sindicais a todos!

O SINDICATO SOMOS TODOS NÓS!
Por ti, para ti, contigo!
Viva o STI!

Ângela Paula Vieira Lopes

Delegada Sindical no SF de Sintra 3

Sócia nº 7673

«Uma perspetiva do teletrabalho

A visão rosa “da coisa”
Gostei da experiência, gosto de estar em teletrabalho. Não sinto que corra o risco de me tornar uma “workaholic”, agrada-me saber que não preciso de correr de manhã, que não chegarei atrasada e à tarde se me demorar mais um bocadinho, já estou em casa. É uma óptima hipótese de gerir o meu tempo, de ter a possibilidade de gerir o investimento necessário no conhecimento de algumas questões, porque só a mim competirá compensar o tempo dispensado, não perdido, ate porque deixo de ter quem tenha essa visão, condicionando-me.

As ferramentas
Primeiro a instalação dos programas por parte de quem não é informático, depois o PC funciona, falha internet, muda-se o router, troca-se de quarto e de computador se o houver e enquanto isso, o stress é enorme, porque as coisas não funcionam, a ajuda do informático pode não acontecer no momento em que precisamos por estar ocupado com outro colega.
Mas a ferramenta também abrange o telefone, que tal como o PC não foi atribuído, ou distribuído. Usa-se o próprio, em privado, quando calha, claro! É a confusão total. Ligamos em modo privado para os colegas e do modo público para os contribuintes e só nos apercebemos quando deixamos uma mensagem codificada para não mostrar o número e recebemos uma chamada de uma pessoa que nos diz: ..a propósito da mensagem que me enviou….já está, pensamos nós, esperemos que a pessoa tenha bom senso… e… às vezes, às vezes não tem!

O regime
As dúvidas sobre o grau de produtividade, sobre se a vigilância do chefe existe ou não, se o horário é para cumprir, se o horário é o nosso, tudo isso vai minando, a sensação de conforto que o teletrabalho é para alguns.
Trabalhar em casa partilhada com um neto ou filhos(os) habituados a ter tempo de qualidade e verem-se privados disso, não é esperado, não foi preparado, não é agradável, mesmo em se tratando de crianças adoráveis. São inúmeras as incursões pelo escritório/divisão dentro para pedir atenção, dizer qualquer coisa, pedir que se conte uma história até que a imagem do chefe severo cresça na sua imaginação e as visitas se tornem inversamente proporcionais.
Ainda se pode falar dos pais, ambos em teletrabalho, com filhos em telescola.
Nesta situação atípica de pandemia, tendo em conta o número de PC’s por agregado familiar e  com a participação na telescola, pode dizer-se que em alguns colegas vivem o teletrabalho sob o regime do “Vira “, isto é, agora trabalhas tu , agora trabalho eu, está na hora da telescola ,não trabalhas tu nem eu”.

Convívio
Pois, esse deixa de existir. E faz falta? Fará a alguns, a outros nem tanto, as amizades no grupo de trabalho, essas mantém-se apesar e com o teletrabalho.

Hierarquia
Pois depende de quem a exerce a chefia. E há quem queira ler e lê todos os mail a ser enviados para os contribuintes. Apesar do controle estabelece-se “um vai e vem” de mails, dos funcionários de cada sector, para a chefe de secção, que depois de supervisionar, os reencaminha para os funcionários, para que estes saibam que aquele mail , o de hoje, de ontem ou de há cinco dias atrás, visto e revisto, foi encaminhado para o contribuinte. Ufff que alívio, assou mais um, dois, depende da alma de escritor de cada um.

Assédio
O assédio acaba com o teletrabalho? Eu preocupo-me com o assédio e pergunto-me se pode haver mais ou menos? Vejamos:
– A colocação em teletrabalho sujeita a acordo entre o chefe e o funcionário, mas onde a opinião do chefe pesa (prevalece?), está consubstanciado na lei ou é uma interpretação ou versão da lei? Existem funcionários que podem ficar em teletrabalho porque o trabalho lhes permite – condição! ou por acordo ??? no ministério das Finanças quer dizer o que?
Por volta das 9h e 10 minutos via skype existe a boa prática (?!) do cumprimento aos funcionários.
Qual é a filosofia que subjaz ao teletrabalho? Existe uma óptica do trabalhador e uma óptica do superior hierárquico ou o teletrabalho, conceito e prática, tem implícito um objetivo de responsabilidade, liberdade e cumprimento do dever, que pode não ser respeitado ou ser posto em causa por motivos menos plausíveis?
Uma ideia, uma opinião… muitas dúvidas.»

Carlos Braga

Delegado Sindical no SF do Porto 4

Sócio nº 6145

«No que diz respeito ao teletrabalho, gostei do método. Facilita a flexibilização do horário, não há interrupções de raciocínio quando trabalhamos.

Fiquei com a ideia de que os objetivos são atingidos, senão ultrapassados.

Sobre a conciliação da vida laboral com a vida familiar…este ponto é que me parece ser o busílis da questão. Nem todos os agregados familiares são compostos por gente crescida.

Há casos em que existem crianças pequenas que exigem uma atenção constante dos pais, o que causa transtornos ao trabalhador em teletrabalho.

Perspetiva sobre a vivência em tempos de pandemia:

É uma solução excelente na salvaguarda da sanidade pública, não poderia ser melhor, já que facilita o confinamento, essencial para que a pandemia seja debelada ou controlada.

Perspetiva sobre a forma como influenciou o desempenho a função de Delegado Sindical:

Face aos meios informáticos existentes, as reuniões ficaram resolvidas através de ferramentas como o zoom, que tem permitido fazer reuniões distritais à distância.

Consequentemente não abalou o contacto com os órgãos distritais. Já com os trabalhadores o contacto faz-se através de WhatsApp se necessário.

Desafios esperados no futuro com esta nova realidade de possíveis funções à distância:

É uma ferramenta que deve ser usada para futuro, quanto mais não seja para funcionários que reúnam as condições agora impostas para a pandemia, pois será um contributo para o ambiente.

Tem uma negatividade, a falta de mobilidade que provoca a quem exerce o teletrabalho, está muitas horas sentado. Se o funcionário não fizer, por exemplo, caminhadas diárias, o sedentarismo é muito e prejudicial.»

Daniel Silva

Delegado Sindical no SF Feira 2

Sócio nº 8982

«Decorridos estes meses após início da pandemia, que aumenta a expetativa de eventuais alterações, quer a nível de trabalho local no SF por extinção de postos, porque os serviços deverão encerrar ou unificar e por exemplo, os colegas administrativos podem não estar aptos para o desempenho de teletrabalho. As consequências do teletrabalho são a maior distância entre os colegas e as condições em casam que muitas vezes não são as melhores quer a nível de hardware e software, além das despesas daí inerentes e consequentes atualizações que se podem tornar dispendiosas, pois para o Estado vai ser mais vantajoso do que para os funcionários, bem como do acompanhamento de aprendizagem que a distância dos colegas provoca, pois a aprendizagem física ou no local de trabalho é mais fácil e esclarecedora para o trabalhador, embora saibamos que vamos ter de nos adaptar pois o futuro e incerto.»

Francisco Rebelo

Delegado Sindical na DF de Lisboa

Sócio nº 4450

«A DF Lisboa está abandonada, qual edifício sorumbático com os seguranças sempre em serviço, e meia dúzia de funcionários por piso, escondidos nas suas“tocas”e protegidos por máscaras sempre que ousam sair para os corredores!

É desolador termos chegado a este ponto em que o pânico paralisou a vida e sobretudo o pensamento, que deveria ser sempre livre, sonhar novos mundos, e não se acobardar perante as ameaças, mais esta, deste novo vírus.

A nossa mera existência coloca-nos sempre perante novos desafios e aprendizagens para aperfeiçoarmos a consciência de estarmos vivos a prazo desconhecido! Talvez muita gente ainda tenha a ilusão de que o seu “prazo” é eterno!

É de vital importância retomarmos a vida “normalizada”, reviver as interações com colegas, amigos, vizinhos, etc, e usufruir a beleza da natureza! Com consciência claro, e sempre com as devidas precauções, respeitando a vida e liberdade dos outros e a sobrevivência do planeta.

O teletrabalho tem uma função complementar, porventura alternativa em casos pontuais, mas não deverá ser prioritário nem generalizado, pois a vida é dinâmica, com interações e emoções em três dimensões!»

Lúcia Fernandes

Delegada Sindical no SF de Barcelos

Sócia nº 14928

«O teletrabalho e a pandemia.

De acordo com a minha vivência, ingressei no teletrabalho logo nos 1.os dias de estado de emergência até ao dia de hoje. Adaptei-me muito bem, cumprindo sempre os horários e as tarefas que me foram designadas, sempre em contacto com os chefes e colegas. Julgo que o nosso trabalho, principalmente na justiça, pode muito bem ser realizado à distância, sendo necessário, uma ou outra tarefa ser executada no serviço.

No meu caso específico, e que não está legislado, foi uma ótima opção, uma vez que tenho um ascendente a meu cargo, que está em casa devido ao encerramento dos centros de dia.

Com o teletrabalho, o grau de autonomia e responsabilidade na execução de tarefas é muito mais exigente, o que implica e apela a uma maior entrega de cada trabalhador.»

Paulo Balhares

Delegado Sindical no SF do Montijo

Sócio nº 13429

«Estes tempos-limite coloca(ra)m-nos em situações inéditas e as introspeções que fizermos serão úteis, mas ainda assim incompletas, sendo que nada nem ninguém foi ou será poupado aos impactos da pandemia. A conciliação da indispensabilidade do teletrabalho com a vida familiar veio por a nu, além das sofríveis infraestruturas tecnológicas existentes, a falta de condições disponibilizadas pela AT que fez/faz depender o sucesso do exercício das funções à distância das possibilidades/meios individuais de cada funcionário, sendo de esperar que os desafios no futuro se intensifiquem e as condições se deteriorem. A função de delegado sindical não foi (ainda) influenciada.»

José António Almeida Guerra

Delegado Sindical no SF da Guarda

Sócio N.º 13556

«Gostaria de alertar que o teletrabalho e o covid19, não é o futuro é o presente. E o futuro muda todos os dias, pelo que não nos podemos apressar demasiado, qualquer decisão deve ser bem ponderada, se a AT não se compromete com rigorosamente nada, vai o STI assumir o quê?O STI tem continuar, manter e reforçar o seu papel na defesa dos sócios, que correm o risco de ficar isolados (ou sentirem, o que vai dar ao mesmo).A função de delegado foi bastante condicionada, fiquei com ideia que na fase inicial alguns sócios (mais ainda a AT em Geral) confundiram mudança com paragem, e penso ser esse o maior desafio, o teletrabalho será uma parcela importante da AT, mas não a única e forçosamente noutros moldes dos atuais.»

Ricardo Nuno Martins Bastos A. Fernandes

Delegado Sindical no SF de Águeda

Sócio N.º 12223

«Em Março vim para casa, para teletrabalho, inicialmente sem saber como tudo iria ser, a surpresa e o desconhecido eram as únicas certezas. No entanto, tudo acabou por funcionar bem a desempenhar funções no CAT. Nesta época de pandemia o papel do atendimento à distância foi fundamental para a atividade e serviço da AT e considero ótimo o desempenho. No entanto, dizer que o teletrabalho seja o futuro já acho discutível. Nesta altura o contribuinte ainda oferece muita resistência a não poder ir aos serviços. Não estão preparados para essa mudança.»

Zélia Duarte Lopes

Delegada Sindical na DF de Leiria

Sócia n.º 14308

«No meu caso pessoal, o recurso ao teletrabalho, na sequência da Pandemia e do estado de emergência, fez-me sentir numa primeira fase uma inevitável invasão do tempo familiar/pessoal e o trabalho, o que também me foi transmitido por outros colegas, com quem falei. Apesar de tudo, acho que a experiência foi bem sucedida, não comprometeu a minha eficiência e acredito que poderá fazer parte da nossa realidade no futuro, mas saliento que, não devemos esquecer os contactos pessoais, que só com trabalho presencial se consegue, apesar de todas as ferramentas digitais ao nosso dispor.»

Margarida Creado

Delegada Sindical no SF de Idanha-a-Nova

Sócia n.º 13925

«Quanto à situação da Pandemia é muito difícil, porque além de todo o desempenho que nos é adstrito, tivermos que dispor dos meios pessoais, para solucionar o máximo de problemas da AT, com deslocações ao Serviço sempre que é preciso, pondo a Saúde em risco.

É importante realçar a parte familiar, sendo muitíssimo importante uma boa união, para ultrapassar todos os obstáculos.

Gostaria também de realçar o desajustamento  profissional, em que contribuo para tudo como qualquer TATA mas continuo integrada na carreira geral de Assistente Técnica.»